No mês passado, Roberta, uma travesti de Recife, teve 40% do corpo queimado publicamente, mais especificamente em um ponto de ônibus no Cais de Santa Rita. Eu sempre me pergunto: de onde vem tanto ódio? A quem interessa lidar com essas pessoas apenas nas sombras, nas partes mais obscuras da internet e não aceitar vê-las na rua, existindo, trabalhando e tendo seus direitos garantidos e respeitados?
Parte dessa comunidade recorre à prostituição para se manter viva. Te desafio a fazer o teste do pescoço, ou seja, olhar para os lados e ver quantas pessoas desse grupo social, que representa o T de uma sigla já conhecida, trabalham ou estudam com você. Com o resultado, percebemos que há ainda muito pelo o que lutar. Garantia de direitos fundamentais como acesso aos estudos e à saúde é urgente.
Em junho, é comemorado mundialmente o Mês do Orgulho LGBTQIA+, mesmo assim, isso não protegeu essas pessoas da violência e não mobilizou a maioria dos políticos para criar leis realmente inclusivas. Nesse mesmo mês de luta, uma representante política, a qual não vou citar o nome, rejeitou a inclusão de mulheres trans nas políticas de combate à violência à mulher, no mesmo município.
O Brasil continua sendo o que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro e agosto do ano passado foram assassinadas 129 pessoas trans no país, de acordo com a Associação Nacional de Transexuais, o que representa um aumento de 70% em relação a 2019.
E aconteceu em 2021: Benny Briolly, a vereadora eleita mais votada de Niterói, teve que sair do país por conta de ameaças de morte! A vereadora eleita, repito, primeira mulher transexual eleita para a Câmara Municipal em Niterói, município do Rio de Janeiro, precisou sair do Brasil para proteger sua vida. Por que a política, em um país democrático, aceita certos grupos e finge aceitar outros? Por que não há inclusão e igualdade da população travesti e transexual no mercado de trabalho ou nas posições de decisão?
Tivemos uma mudança, uma mulher transexual foi eleita com muitos votos, mas o que foi feito estruturalmente para mantê-la no local conquistado?
Luta de ontem, luta de hoje
Muito da intolerância e do ódio vem do desconhecimento, do estigma ou de algo que foi falado e tomado como verdade marcada em pedra, mas não precisa ser assim. Eu acredito que as pessoas podem mudar, refletir sobre assuntos considerados tabus e mudar suas percepções.
No entanto, pensar positivo não é o suficiente, principalmente conhecendo a história de Marsha P. Johnson, uma vanguardista, ativista travesti pioneira na luta pelos direitos da comunidade LGBT, nos EUA. Ela foi também uma das líderes da revolta de Stonewall, que lutou contra o desprezo, a ridicularização e o ódio após uma batida policial truculenta em um bar da comunidade. Em vida, com sua energia contagiante, Marsha exigiu com suas companheiras reconhecimento econômico, jurídico e aceitação.
Infelizmente, foi assassinada em 1992, também em um espaço público. Recomendo que você assista um documentário sobre ela na Netflix para entender mais sobre o assunto.
É necessário o apoio das autoridades (já fiz um texto sobre como ocupar espaços políticos pode mudar as coisas), destruir o preconceito e o machismo, visto que, entre os agressores, homens são a maioria, com ações propositais e persistentes até que nenhuma mais seja morta por transfobia. É preciso ainda discutir mais sobre o racismo, garantir que leis sejam efetivamente cumpridas! Grande parte das mulheres travestis e transexuais assassinadas são negras, e isso não é por acaso.
A luta deve ser coletiva por inclusão no mercado de trabalho, na política, no cinema, e onde mais essa comunidade quiser! Eu espero que se as pessoas se abram mais, se permitam questionar crenças e promover o respeito. No mais, sigam pessoas travestis e transexuais nas redes sociais, ouçam o que elas estão dizendo e compartilhe com familiares, amigos, para que eles possam se abrir também. Mas lembre-se, isso não é tudo! As eleições estão chegando e nós podemos escolher pessoas mais comprometidas com a mudança.