O tema “diversidade nas empresas” está mais em alta que o dólar! Tenho certeza que você reparou que não só nas propagandas tem mais cores, mais culturas e mais comunidades. O Linkedin, a maior rede social profissional do mundo, está em polvorosa com o tema e já não existe vergonha em comentar em publicações de empresas que insistem em fechar os olhos para a questão “cadê os negros, os indígenas, as mulheres, os PDCs e a comunidade LGBTQIA+ nesse time?”.
Ainda bem que, cada vez mais, não incluir, não fazer esforço para ter pessoas diversas na equipe é mal visto. O argumento de que não existem profissionais qualificados não cola mais, assim como o famoso “nenhuma pessoa diversa se inscreveu”. Inúmeras consultorias, que trabalham justamente para garantir a inclusão dessas pessoas, estão disponíveis no mercado para ajudar as empresas nesse quesito.
Ainda no contexto, nos últimos anos, milhares de pessoas negras conseguiram ingressar na universidade por conta das cotas. Formadas, elas enfrentam ainda muitos desafios para ingressar e se manter no mercado formal de trabalho, por isso que sempre fico feliz quando vejo depoimentos daqueles que conseguiram uma oportunidade de mostrarem seu valor e garantir que a mobilidade social tão sonhada aconteça.
Nem tudo são flores
A dificuldade de grupos dominantes para abrir mão de privilégios construídos por séculos é imensa e muito perceptível para os grupos diversos acostumados a lidar com todo tipo de discriminação! Muitos, na tentativa de sair bem na fita, contratam pessoas desses grupos, mas ainda pensam na lógica dos séculos passados, e não conseguem ajudar esses colaboradores no crescimento de suas carreiras.
A tentativa de manutenção de estruturas sociais passa pela falta de promoção, pelo pagamento de salários menores e também pela colocação daquele funcionário diverso, não por acaso, em situações vexatórias, como por exemplo, fazer o café para todos os outros colegas de equipe na mesma posição ou insistir em apelidos racistas, LGBTfóbicos ou capacitistas.
Uma pesquisa realizada pelo Indeed em parceria com o Instituto Guetto com trabalhadores negros, revelou que 47,8% não têm um senso de pertencimento nas empresas em que trabalham ou trabalharam. Essa falta está diretamente ligada a discriminação racial. A modernização do racismo em uma tentativa desesperada para não abrir espaço para a diferença pode ser vista nessa sensação.
O caso da base da pirâmide
Fui procurar o caso de Luanna Teófilo, uma mulher preta que foi condenada a pagar 15 mil reais de indenização para uma empresa depois dela sofrer racismo, ter sido escoltada para fora da empresa aos gritos e denunciar a situação, e encontrei muitos outros! E a maioria foi contra mulheres negras.
A consultoria Indique Uma Preta e a empresa de pesquisa Box1824 lançaram a pesquisa “Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho”, que explica de forma muito detalhada o que mulheres negras enfrentam nos locais de trabalho. O levantamento, que é um dos maiores já feitos aqui no Brasil, mostra que, apesar da mulher negra representar a maior força de trabalho no país, segue sem representação igualitária no mundo corporativo.
51% das entrevistadas afirmaram que receber promoções foi difícil ou muito difícil nos últimos anos. 37% delas disseram estar insatisfeitas ou muito insatisfeitas com esse fator, e 54% das mulheres negras de classe CDE afirmam que o reconhecimento profissional é difícil ou muito difícil.
A pesquisa mostrou também que 44% das mulheres ouvidas pela pesquisa se sentem inseguras para acreditar no seu potencial e trabalho, 42% temem se posicionar ou falar em espaços coletivos e 41% têm a qualidade de vida alterada (sono, ansiedade, bem estar). Por fim, 32% fazem alterações compulsórias sobre a estética para se adequar aos espaços de trabalho. Leia mais sobre o estudo aqui.
Fico pensando o quanto deve incomodar ver uma mulher negra em posições estratégicas. Há a tentativa desesperada de destruir a autoestima daquela mulher que carrega na pele lutas de séculos e tirar seu brilho. No entanto, ao mesmo tempo que machuca, também as fazem ir atrás de redes de apoio para desenvolver mais formas de chegar onde merecem e sonharam! Não vamos retroceder!