Esgotamento mental no trabalho: como identificar e por que é perigoso para sua vida pessoal?

Segundo a International Stress Management Association, nosso país está em segundo lugar no ranking de trabalhadores com burnout, também conhecido com esgotamento mental, uma síndrome onde o atingido apresenta alto nível de estresse relacionado ao trabalho. Esse tipo de estresse crônico enfraquece o sistema imunológico e pode facilitar o aparecimento de outras doenças psicossomáticas, como a ansiedade e a depressão. No texto “Trabalho e saúde mental: cuidado com as armadilhas!” disse que, de acordo com a OMS, ser mentalmente saudável é ser capaz de desenvolver habilidades pessoais, lidar com estresse, mudanças e desafios, desenvolver relações sociais e trabalhar de forma produtiva, tudo isso com o bem-estar por perto. Mas vamos combinar que esse pequeno parágrafo é, na prática, algo difícil de se manter integralmente. Mas como identificar o esgotamento mental? Se você se sente intensamente desgastado em seu ambiente de trabalho, sempre chega ao fim do dia cansado físico e mentalmente, extremamente estressado, sente que não é mais o mesmo, que seu raciocínio está lento e o seu humor no chão, talvez você precise parar e olhar para isso com calma e, mais importante, com ajuda profissional. Outros sintomas são: dores de cabeça frequentes, dores musculares, alteração nos batimentos cardíacos e sentimento de fracasso. Com todos esses sintomas, todas as outras áreas da sua vida serão afetadas, se já não estão sendo. Infelizmente, você não terá tempo de qualidade para passar com amigos e família, e vai se sentir cada vez mais distante. A recomendação dos especialistas diante desses sintomas é unânime: não dá para deixar para depois. Quanto mais cedo você olhar para isso, mais cedo voltará integralmente à ativa. 2020 foi o ano em que a concessão de auxílio doença e aposentadoria por invalidez devido a transtornos mentais bateu recorde! Segundo a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, houve uma alta de 26% em relação a 2019, com 576,6 mil afastamentos. Entre eles, há maior incidência de afastamento por depressão e ansiedade, doenças, como disse, desencadeadas pelo burnout. Caminhos para solução Apesar de o mundo atual ser movido a telas, informações e estímulos, às vezes, buscar exercícios para deixar o FOMO (Fear of Missing Out, ou, em tradução livre, medo de ficar de fora) de lado, podem te ajudar. Praticar exercícios e ter horários para lazer com pessoas com as quais você se importa, também. Outra ação que pode, e deve, ser tomada diz respeito à organização do seu dia. Pessoas que estão sempre apagando fogo, no sentido figurado, têm mais chances de se estressar e chegar ao burnout. Por isso, tente planejar sua semana no domingo ou na segunda de manhã, separando as atividades em 1. importante, 2. urgente e 3. circunstancial, que é aquela tarefa pedida de última hora e para ontem. Te dou mais um conselho! Busque seu autoconhecimento. Conforme você se conhece mais, vai saber seus horários mais produtivos, o que te agrada ou desagrada, quais são os seus sonhos, qual é o seu propósito e o que te faz feliz. A cultura da correria, hiperconexão, não separação da vida pessoal e profissional, jornadas exaustivas, não podem continuar sendo normalizadas Coloque em sua agenda pausas de cinco ou dez minutos ao longo do dia para fazer um exercício de respiração, para meditar ou se alongar. Tente não fazer mil atividades ao mesmo tempo, se comprometa a ter uma atenção exclusiva a cada uma delas. Com pouco tempo, sua qualidade de vida vai aumentar e o distúrbio causado por más condições de trabalho pode diminuir ou não chegar até você.

Violência contra mulheres negras e o feminismo interseccional

Não é difícil ouvir que certos grupos estão segregando, dividindo forças ou lutando contra o preconceito sendo preconceituosos. O chamado feminismo interseccional, uma corrente que leva em conta não só o gênero, como também a classe e, principalmente, a raça de uma mulher, está cansado desse tipo de abordagem. “Mas por que isso? Não podemos juntar esforços?” alguém pode perguntar. Podemos e devemos! No entanto, se muitas mulheres não se sentem acolhidas por outros tipos de feminismos, a pergunta deve ser “estamos realmente incluindo demandas de todas em nosso movimento?”. Vamos a alguns dados A população negra (preta ou parda) corresponde a 56,2% da população brasileira, segundo dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Com quase 60 milhões de pessoas, as mulheres negras formam o maior grupo populacional do país. No entanto, elas são as mais afetadas por crises, o que denuncia uma condição social e econômica ainda muito abaixo do que deveria ser, do que seria justo, vamos dizer assim, para uma efetiva igualdade. A falta de políticas públicas direcionadas só potencializa essa condição. Apesar da mulher negra ter entrado no mercado de trabalho antes da mulher branca, a PNAD mostrou também que, em 2020, o desemprego entre mulheres não negras foi de 13,5%, enquanto que, entre mulheres negras, o número chegou a 19,8%. A taxa de desemprego é quase o dobro, se compararmos com a taxa verificada entre homens brancos. E falando em salário, mulheres negras ganham em média R$ 1.476 por mês, enquanto que mulheres brancas ganham em média R$ 2.529 no mesmo período. Não vou nem trazer aqui a média do salário de um homem branco, mas você pode imaginar. A violência contra a mulher negra é secular e persiste. Um levantamento do G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal mostrou que no primeiro semestre de 2020, 75% das mulheres assassinadas eram negras. A mulher negra era, nessa altura, 3 entre 4 mulheres assassinadas neste país. Com isso em mente, volto ao questionamento inicial para quem reclama do feminismo interseccional, acusando-o de separar o movimento e colocar nossas demandas acima das outras: há realmente uma inclusão equalizada de demandas? Pioneirismo forçado A mulher negra é pioneira. Não quero que você, leitora ou leitor, ache que isso seja super legal. Ter entrado no mercado de trabalho muito antes das mulheres brancas, ter reivindicado direitos não só para elas, mas para seus filhos e conhecidos, foram ações frutos da extrema necessidade. Até os dias de hoje vemos que muito mais mulheres negras empreendem por necessidade. Sem emprego, elas ficam sem escolha e precisam empreender às pressas, sem muito planejamento, o que afeta mais ainda sua condição econômica. Na emergência, nós nos erguemos e arranjamos uma forma de sobreviver, e não deveria existir uma romantização em volta desse fato. Ao longo dos séculos tivemos que nos reinventar muitas vezes, e seguir caminhando mesmo com os atravessamentos violentos não só contra nossos corpos negros, mas contra os corpos de nossos pais, irmãos, primos, tios e companheiros. Para mim, o feminismo interseccional é mais uma dessas formas de buscar soluções para os problemas de muitas. Há muitas outras que no final têm o mesmo objetivo: diminuir essas desigualdades. Focadas em nossas demandas entre nós e com aliadas e aliados que entendem e querem somar, iremos mais longe. Lembrando de Angela Davis, quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.

O que podemos aprender no nosso dia a dia com a força mental dos atletas nas Olimpíadas

Naomi Osaka, 23 anos, uma das maiores tenistas do mundo, fez uma corajosa declaração sobre suas crises de depressão, desencadeadas após a conquista do maior prêmio da categoria, o Grand Slam, em 2018, e deixou um campeonato importante para cuidar de si. Em 2021, no auge das Olimpíadas de Tóquio, Simone Biles, 24 anos, a maior ginasta da atualidade, decidiu não competir na final, para priorizar sua saúde mental. A pressão por performance e resultados voltou a ser debatida nos grandes veículos de comunicação, assim como sinais de estresse e a prejudicial necessidade de  precisar provar seu valor constantemente. Daiane dos Santos, ex-ginasta brasileira e atual comentarista das Olimpíadas, disse que a reação de Simone indica que seu motricional não estava ligado com o mental, o que, trocando em miúdos, é confirmado pela atleta na seguinte fala em uma entrevista. “Sempre que você entra em uma situação de alto estresse, você meio que enlouquece. Tenho que me concentrar na minha saúde mental e não colocar em risco minha saúde e bem-estar. É uma bosta quando você está lutando com sua própria cabeça. Você quer fazer isso por si mesmo, mas ainda fica muito preocupada com o que todo mundo vai dizer.” Em seu perfil no Instagram, a atleta mostrou como treinar muito a fazia ter espécies de apagões, e que nos treinos ela poderia ‘desmaiar’ nos colhões, mas em uma competição, não teria esse apoio, o que aumentava o risco de lesões. Já Rebeca Andrade, 22 anos, mulher negra e brasileira, continuou a competir. O seguinte diálogo, entre um repórter e ela, recém ganhadora da medalha de prata, expõe como uma base psicológica mostrou seu valor e foi decisiva para ela nesse ambiente e após a saída de uma adversária importante. Repórter: Foi tão atribulada a chegada a essa final, eu digo, pro mundo da ginástica, por causa da Simone. O que passou na sua cabeça momentos antes, durante a competição? É difícil se desligar disso também? A gente sabe da importância que ela tem para o mundo da ginástica, era um nome a ser batido, cria uma pressão extra para quem estava competindo sem ela? Rebeca Andrade: Eu acho que o fato dela ter saído não foi nada negativo. As pessoas tem que entender que o atleta não é um robô, ele é um humano. Então, a decisão     que ela tomou foi a coisa mais sábia que ela pode fazer por ela, não foi nem pelos outros, porque não se brinca com a cabeça, sabe? Eu trabalho muito com a minha psicóloga por causa disso. Hoje, eu sou uma atleta diferente justamente pela cabeça que eu tenho. Porque eu acho que se eu tivesse em 2016, como eu era muito nova, muito crua, isso não teria acontecido. […] O que eu sempre falei nas entrevistas também, quando me perguntavam, o que eu sempre admirei nela era o psicológico dela, porque todo mundo sabe que ela é a melhor do mundo, que ela tem todo o talento, ela é incrível mesmo, sabe? Então eu sempre admirei muito isso, porque a pressão em cima dela era muito constante e era muito difícil, então ela acabava se cobrando muito também. […] Eu fiquei orgulhosa dela por ter tomado essa atitude e ter pensado nela antes de qualquer outra coisa. O que podemos aprender com elas? O recorte de um pedaço da vida dessas três mulheres, nos mostram que quanto mais elas entregam, mais é pedido. Por isso, equilibrar os pratos é uma atividade para o qual a preparação acontece ao vivo, sob o olhar de milhares de pessoas e, no caso das Olimpíadas de Tóquio, sob o olhar do mundo inteiro. Eu consigo imaginar a pressão, e você? Nem todo mundo consegue, e está tudo em tirar um tempo para si, dar um passo para trás. Mais do que chegar lá, é preciso muita coragem para se colocar em primeiro lugar e abrir mão de coisas pelas quais se lutou muito, quando aquilo diminui ou elimina seu bem-estar. Está tudo bem não querer se expor a jornalistas que vão fazer perguntas desconfortáveis ou não querer estar próxima dos fãs o tempo inteiro. Por aqui, como fã dos esportes desde pequena, continuo admirando essas mulheres dentro e fora do esporte! Torço para que elas fiquem bem e voltem a achar prazer em suas atividades. Desejo que essas decisões difíceis sirvam como plataforma para mudar paradigmas sobre saúde mental. Apesar da longa discussão, muitos ainda encaram isso como mimimi, mas, como vi por aí nas ruas da internet, “mimimi é a dor que não dói na gente”.

Negros no mercado de trabalho: precisamos falar sobre isso

O tema “diversidade nas empresas” está mais em alta que o dólar! Tenho certeza que você reparou que não só nas propagandas tem mais cores, mais culturas e mais comunidades. O Linkedin, a maior rede social profissional do mundo, está em polvorosa com o tema e já não existe vergonha em comentar em publicações de empresas que insistem em fechar os olhos para a questão “cadê os negros, os indígenas, as mulheres, os PDCs e a comunidade LGBTQIA+ nesse time?”. Ainda bem que, cada vez mais, não incluir, não fazer esforço para ter pessoas diversas na equipe é mal visto. O argumento de que não existem profissionais qualificados não cola mais, assim como o famoso “nenhuma pessoa diversa se inscreveu”. Inúmeras consultorias, que trabalham justamente para garantir a inclusão dessas pessoas, estão disponíveis no mercado para ajudar as empresas nesse quesito. Ainda no contexto, nos últimos anos, milhares de pessoas negras conseguiram ingressar na universidade por conta das cotas. Formadas, elas enfrentam ainda muitos desafios para ingressar e se manter no mercado formal de trabalho, por isso que sempre fico feliz quando vejo depoimentos daqueles que conseguiram uma oportunidade de mostrarem seu valor e garantir que a mobilidade social tão sonhada aconteça. Nem tudo são flores A dificuldade de grupos dominantes para abrir mão de privilégios construídos por séculos é imensa e muito perceptível para os grupos diversos acostumados a lidar com todo tipo de discriminação! Muitos, na tentativa de sair bem na fita, contratam pessoas desses grupos, mas ainda pensam na lógica dos séculos passados, e não conseguem ajudar esses colaboradores no crescimento de suas carreiras. A tentativa de manutenção de estruturas sociais passa pela falta de promoção, pelo pagamento de salários menores e também pela colocação daquele funcionário diverso, não por acaso, em situações vexatórias, como por exemplo, fazer o café para todos os outros colegas de equipe na mesma posição ou insistir em apelidos racistas, LGBTfóbicos ou capacitistas. Uma pesquisa realizada pelo Indeed em parceria com o Instituto Guetto com trabalhadores negros, revelou que 47,8% não têm um senso de pertencimento nas empresas em que trabalham ou trabalharam. Essa falta está diretamente ligada a discriminação racial. A modernização do racismo em uma tentativa desesperada para não abrir espaço para a diferença pode ser vista nessa sensação. O caso da base da pirâmide Fui procurar o caso de Luanna Teófilo, uma mulher preta que foi condenada a pagar 15 mil reais de indenização para uma empresa depois dela sofrer racismo, ter sido escoltada para fora da empresa aos gritos e denunciar a situação, e encontrei muitos outros! E a maioria foi contra mulheres negras. A consultoria Indique Uma Preta e a empresa de pesquisa Box1824 lançaram a pesquisa “Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho”, que explica de forma muito detalhada o que mulheres negras enfrentam nos locais de trabalho. O levantamento, que é um dos maiores já feitos aqui no Brasil, mostra que, apesar da mulher negra representar a maior força de trabalho no país, segue sem representação igualitária no mundo corporativo. 51% das entrevistadas afirmaram que receber promoções foi difícil ou muito difícil nos últimos anos. 37% delas disseram estar insatisfeitas ou muito insatisfeitas com esse fator, e 54% das mulheres negras de classe CDE afirmam que o reconhecimento profissional é difícil ou muito difícil. A pesquisa mostrou também que 44% das mulheres ouvidas pela pesquisa se sentem inseguras para acreditar no seu potencial e trabalho, 42% temem se posicionar ou falar em espaços coletivos e 41% têm a qualidade de vida alterada (sono, ansiedade, bem estar). Por fim, 32% fazem alterações compulsórias sobre a estética para se adequar aos espaços de trabalho. Leia mais sobre o estudo aqui. Fico pensando o quanto deve incomodar ver uma mulher negra em posições estratégicas. Há a tentativa desesperada de destruir a autoestima daquela mulher que carrega na pele lutas de séculos e tirar seu brilho. No entanto, ao mesmo tempo que machuca, também as fazem ir atrás de redes de apoio para desenvolver mais formas de chegar onde merecem e sonharam! Não vamos retroceder!

Biles, Osaka e Liz…

Foto de capa: Liz Cambage, Simone Biles e Naomi Osaka debatem a importância da saúde mental no esporte. Fotos: Getty| Arte: Karoline Souza/CLAUDIA O esporte está na minha vida desde que eu nasci. Quando tinha 3 anos de idade, sentava no colo do meu pai e assistia futebol com ele. Minha mãe tentou me colocar em balé, jazz e ginástica olímpica na infância. Lembro da Copa do Mundo de 94, eu chorando de emoção com o tetra do Brasil. Na mesma época, me apaixonei por Michael Jordan e vi todos os títulos do Chicago Bulls da década de 90. Logo em seguida, surgiu o Guga e seus títulos de Roland Garros no tênis e as irmãs Williams, fortes e dominantes. Mais para frente, vibrei com Daiane dos Santos e seus saltos incríveis no tablado da ginástica. Enfim, a cada tempo, surgiu alguém para eu admirar. Detalhe, sempre algo em comum: todas e todos atletas! Mais velha, tentei jogar handebol e vôlei e descobri que tinha talento para apoiar o time e minhas colegas, mas não habilidades para ser uma atleta.Mudei várias vezes de equipe, tive crush em diversos jogadores e troquei de esporte favorito, mas o que nunca mudou foi como meu coração batia forte todas as vezes que assistia um atleta pela televisão. Acordei na madrugada da ginástica artística para ver a Simone Biles. Não sei se você que me lê é apaixonado por esportes, mas quando vejo grandes atletas, sobretudo mulheres, me sinto próxima, como se fôssemos colegas. Então, eu precisava acordar para apoiar a Simone. Ela é um fenômeno da ginástica. O que sempre me impressionou em Simone e, em todos esses atletas que citei, foi o amor e respeito pelo esporte. Todos eles me inspiraram durante a vida a não desistir. Existe esse grande aprendizado em relação ao esporte para mim: o fracasso, as perdas, as lesões, as vitórias, as alegrias. As emoções são caminhos de aprendizados e possibilidades. Hoje, quando Simone desistiu de competir, mesmo sem parecer estar lesionada, senti um misto de angústia e dúvida sobre esses aprendizados, inclusive pensei: ‘ela é a Simone Biles. Atletas não desistem’. Isso durou alguns segundos! Em seguida, lembrei da tenista japonesa-haitiana Naomi Osaka e da jogadora de basquete australiana Liz Cambage. O que elas têm em comum com Simone? Todas desistiram. Diante da pressão desse momento delicado que vivemos de pandemia, elas abriram mão de competir em prol de sua saúde mental. Eu sou psicóloga, então sei bem como esse acúmulo de pressão que vivemos na vida pode nos prejudicar. Ainda mais para atletas que não puderam se preparar adequadamente nesse período de pandemia, que antecedeu as Olimpíadas. Além disso, eles são expostas a uma pressão por resultados e uma boa relação com imprensa e fãs. Nada disso é simples ou fácil. Cada uma dessas atletas tem seus motivos para colocar sua saúde mental em primeiro lugar e, mais uma vez, o esporte me ensina a lidar com os enfrentamentos da vida. Elas não desistiram. Elas foram muito corajosas em reconhecer que se sentir vulnerável faz parte do nosso processo como ser humano, não há nada de vergonhoso ou ruim nisso. A psicologia leva tão a sério a saúde emocional como forma de aumentar e potencializar a performance de um atleta, que temos uma especialidade somente para o tema: a psicologia do esporte. A lógica é, quanto melhor e mais preparado você se sentir, melhor vai performar. Se o atleta sente ansiedade ou medo de falhar, vamos trabalhar com ele técnicas de respiração, vamos acompanhá-lo nos momentos de competição e traçar um plano para que ele mantenha o rendimento e supere suas dificuldades. A ginasta brasileira Rebeca Andrade teve três cirurgias no joelho. Lesões são um dos maiores medos dos atletas, mas ela mesmo já contou que sua psicóloga contribuiu bastante na sua recuperação. Nessa competição, notei que ela usa técnicas de respiração para manter foco. Canalizando essas frustrações da lesão para o bem, ela teve um resultado incrível: a segunda maior nota no individual geral, ou seja, se classificou como a segunda ginasta mais completa do mundo. Para mim, não há nada mais importante que estar bem física e emocionalmente. Como diz Viktor Frankl, psiquiatra fundador da logoterapia: “quem tem um por que, aguenta quase todo como”. Que nossa maior motivação seja sempre nós mesmos! Obrigada Simone, Naomi, Liz e tantos atletas que seguem nos inspirando diariamente dentro e fora do esporte.

Trabalho e saúde mental: cuidado com as armadilhas!

No texto “O que é Saúde Mental e por que ela é o termo da moda dentro da psicologia?”, que postei nos últimos dias, mostrei muito brevemente a relação da saúde mental com a qualidade de vida, bem-estar e, claro, com o mercado de trabalho. Conforme os chamados transtornos psicológicos têm atingido mais pessoas, sendo os mais conhecidos depressão e ansiedade, mais soluções têm sido criadas na tentativa de contenção. A experiência que possuímos em nosso ambiente de trabalho afeta diretamente a nossa saúde mental, isso é um fato, e com a pandemia, vimos muitas empresas passarem a oferecer terapia, meditação, ioga, rodas de conversa e mais para os colaboradores. A intenção é boa, reconheço, mas há uma linha tênue entre ajudar e sobrecarregar o funcionário, individualizando uma questão que é mais complexa do que parece. Afastamento por transtornos mentais e outros dados Com a chegada do covid-19, muitas pessoas conseguiram migrar para o home office. Infelizmente, outras tantas não conseguiram e precisaram continuar circulando e se expondo diariamente a um vírus mortal. Tanto para quem fica, quanto para quem sai, lidar com um cenário de incerteza, de medo e com a vida social comprometida é uma carga que pode afetar a forma como lidamos com estresse, mudanças, desafios, como desenvolvemos relações sociais e, por fim, trabalhamos de forma produtiva. 2020 foi o ano em que a concessão de auxílio doença e aposentadoria por invalidez devido a transtornos mentais bateu recorde! Segundo a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, houve uma alta de 26% em relação a 2019, com 576,6 mil afastamentos. Entre eles, há maior incidência de afastamento por depressão e ansiedade. Assim como eu, você provavelmente escutou inúmeras reclamações de trabalhadores aflitos por não sentirem que existia uma separação entre vida pessoal e profissional. A hiperconexão tornou suas jornadas ainda mais exaustivas, mesmo em meio a questões relacionadas ao luto coletivo da atual crise sanitária. E para quem precisou continuar saindo de casa, a ideia de estar cada vez mais próximo da morte afetou toda a forma de ver a vida, além de muitos relatarem o medo constante de levar a doença para dentro de casa. A linha tênue da qual eu falei De acordo com um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o brasileiro trabalha em média 8 horas por dia, o que representa 39,5 horas por semana. Para compararmos, a média global é de 36,8 horas por semana. Claro que isso mudou na pandemia para quem trabalha de casa por conta das questões que falamos no parágrafo anterior. Muitas empresas, na tentativa de manter a produtividade ou aumentar os lucros, passaram a oferecer atividades gratuitas ou a baixo custo que visam desenvolver soft skills e saúde mental. No entanto, muitas vezes a cobrança para se comparecer nesses espaços ou cumprir um número mínimo de horas de capacitação, que não raro acontecem fora do horário de trabalho, pode ser fonte de ansiedade para muitos. Por isso, fica o alerta: às vezes, ver um filme, fazer meditação e atividades para otimizar o tempo ou conversar sobre suas aflições pessoas, só vai fazer sentido para o colaborador se for feito em seu tempo e/ou com pessoas com quem ele tem outros tipos de relação, que não a profissional. Empregadores precisam ficar atentos a isso para não sobrecarregar funcionários que estão passando por algum tipo de questão envolvendo o tema. A intenção pode ser das melhores, mas em hipótese alguma diga que a pessoa não se esforçou para sair da depressão ou da ansiedade porque não se esforçou para participar das atividades que expandiram o horário de trabalho. Quando se torna uma obrigação, pode ter o efeito contrário do que você pensou inicialmente. Para finalizar, tem uma frase que eu não lembro onde ouvi ou vi, mas ficou gravada por aqui (quem souber, por gentileza, coloque nos comentários): a economia é recuperável, vidas não. Por isso, ao invés de tentar preencher a agenda com cada vez mais atividade, que tal verificar se as férias dos funcionários estão em dia? Que tal revisar horas de trabalho e se as equipes conseguem dar conta das demandas? É um trabalho necessário, que não deve ser feito de forma rasa. Um espaço respeitoso, inclusivo e que não invade a vida pessoal do funcionário pode dar mais resultado que inúmeras atividades “não obrigatórias”.

Por que somos tão preconceituosos com o outro?

No mês passado, Roberta, uma travesti de Recife, teve 40% do corpo queimado publicamente, mais especificamente em um ponto de ônibus no Cais de Santa Rita. Eu sempre me pergunto: de onde vem tanto ódio? A quem interessa lidar com essas pessoas apenas nas sombras, nas partes mais obscuras da internet e não aceitar vê-las na rua, existindo, trabalhando e tendo seus direitos garantidos e respeitados? Parte dessa comunidade recorre à prostituição para se manter viva. Te desafio a fazer o teste do pescoço, ou seja, olhar para os lados e ver quantas pessoas desse grupo social, que representa o T de uma sigla já conhecida, trabalham ou estudam com você. Com o resultado, percebemos que há ainda muito pelo o que lutar. Garantia de direitos fundamentais como acesso aos estudos e à saúde é urgente. Em junho, é comemorado mundialmente o Mês do Orgulho LGBTQIA+, mesmo assim, isso não protegeu essas pessoas da violência e não mobilizou a maioria dos políticos para criar leis realmente inclusivas. Nesse mesmo mês de luta, uma representante política, a qual não vou citar o nome, rejeitou a inclusão de mulheres trans nas políticas de combate à violência à mulher, no mesmo município. O Brasil continua sendo o que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro e agosto do ano passado foram assassinadas 129 pessoas trans no país, de acordo com a Associação Nacional de Transexuais, o que representa um aumento de 70% em relação a 2019. E aconteceu em 2021: Benny Briolly, a vereadora eleita mais votada de Niterói, teve que sair do país por conta de ameaças de morte! A vereadora eleita, repito, primeira mulher transexual eleita para a Câmara Municipal em Niterói, município do Rio de Janeiro, precisou sair do Brasil para proteger sua vida. Por que a política, em um país democrático, aceita certos grupos e finge aceitar outros? Por que não há inclusão e igualdade da população travesti e transexual no mercado de trabalho ou nas posições de decisão? Tivemos uma mudança, uma mulher transexual foi eleita com muitos votos, mas o que foi feito estruturalmente para mantê-la no local conquistado? Luta de ontem, luta de hoje Muito da intolerância e do ódio vem do desconhecimento, do estigma ou de algo que foi falado e tomado como verdade marcada em pedra, mas não precisa ser assim. Eu acredito que as pessoas podem mudar, refletir sobre assuntos considerados tabus e mudar suas percepções. No entanto, pensar positivo não é o suficiente, principalmente conhecendo a história de Marsha P. Johnson, uma vanguardista, ativista travesti pioneira na luta pelos direitos da comunidade LGBT, nos EUA. Ela foi também uma das líderes da revolta de Stonewall, que lutou contra o desprezo, a ridicularização e o ódio após uma batida policial truculenta em um bar da comunidade. Em vida, com sua energia contagiante, Marsha exigiu com suas companheiras reconhecimento econômico, jurídico e aceitação. Infelizmente, foi assassinada em 1992, também em um espaço público. Recomendo que você assista um documentário sobre ela na Netflix para entender mais sobre o assunto. É necessário o apoio das autoridades (já fiz um texto sobre como ocupar espaços políticos pode mudar as coisas), destruir o preconceito e o machismo, visto que, entre os agressores, homens são a maioria, com ações propositais e persistentes até que nenhuma mais seja morta por transfobia. É preciso ainda discutir mais sobre o racismo, garantir que leis sejam efetivamente cumpridas! Grande parte das mulheres travestis e transexuais assassinadas são negras, e isso não é por acaso. A luta deve ser coletiva por inclusão no mercado de trabalho, na política, no cinema, e onde mais essa comunidade quiser! Eu espero que se as pessoas se abram mais, se permitam questionar crenças e promover o respeito. No mais, sigam pessoas travestis e transexuais nas redes sociais, ouçam o que elas estão dizendo e compartilhe com familiares, amigos, para que eles possam se abrir também. Mas lembre-se, isso não é tudo! As eleições estão chegando e nós podemos escolher pessoas mais comprometidas com a mudança.

Não se posicionar também é se posicionar

Graças a muitas batalhas, hoje conseguimos viver em uma sociedade onde podemos nos posicionar, compartilhar histórias, fazer protestos, votar, ir e vir, entre outras ações. Temos uma Constituição que garante acesso à direitos fundamentais, como educação, propriedade, trabalho, moradia e saúde.  Claro que muitas vezes eles não chegam, ou pelo menos não a todas as pessoas, mas devemos reconhecer que estamos um pouco melhores do que no século passado nessas questões. Nossa vida é feita de escolhas, que são tomadas de forma consciente, ou não, considerando o cenário, as possibilidades e, claro, as consequências. Apesar do que eu citei no parágrafo acima, temos muito ainda para conquistar. Alguns exemplos Igualdade de gênero. Neste texto sobre o voto como nossa arma para mudar as coisas, eu compartilho brevemente o caminho que tivemos que fazer para ter direito ao voto, e dou destaque para a trajetória de mulheres, ressaltando os bons resultados que tivemos nas últimas eleições municipais. No entanto, ainda ganhamos menos no mercado de trabalho, e o cuidado com os outros, filhos, mais velhos e casa, ainda é exigido majoritariamente por nós. Também precisamos avançar nos cargos de liderança e nos mais altos escalões da política. Raça. É uma questão sensível neste país onde muitas pessoas ainda acreditam na democracia racial. No entanto, basta olharmos para espaços de poder como a política e grandes empresas para ver que ainda estamos um longe da igualdade. Do outro lado, olhando para os níveis de violência, a população negra é a que mais sofre. Em 11 anos, os níveis de homicídio das pessoas negras cresceu 11,5%, enquanto que o de outros grupos caiu 13%, segundo o Atlas da Violência de 2020. Dados tristes como esse podem ser observados em relação à violência doméstica, violência obstétrica, mortes por covid-19 e outras doenças, além da taxa de encarceramento da população. Classe. Esses dias eu vi que a concentração de terras aumentou na última década e, alinhado a isso, a produção de monoculturas, que usam toneladas de agrotóxicos. No ano da pandemia, onde milhares de pessoas perderam seus empregos e outras muitas começaram a passar fome ou viram sua situação de vulnerabilidade social se aprofundar, surgiram 11 bilionários no Brasil, reforçando a máxima da desigualdade econômica nesse país que é tão rico, mas onde poucos têm muito. Sobre os deveres Neste país de dimensões continentais, nem todas as pessoas são conscientes em relação aos três pontos que citei acima. Tem muito mais coisa para discutir, mas considero que conhecer esses três assuntos é um bom início para entender o funcionamento de estruturas e se posicionar contra elas para fazer parte da mudança. Chegamos até aqui porque as pessoas se posicionaram contra a escravidão, contra a monarquia, contra as regras sociais que diziam que mulheres deveriam ficar em casa cuidando dos filhos, contra o coronelialismo e outras muitas injustiças! Pensar em nosso devir, ou seja, nas próximas gerações, deve passar pelo o que queremos deixar para elas. O Brasil que queremos deixar para os nossos filhos terá fome? Desmatamento? Veneno no prato? Machismo e misoginia? A partir do entendimento, é necessário compartilhar! Lá em cima eu falei que nem todas as decisões são conscientes, porque tem muitas pessoas que não entendem o peso ou a importância de suas ações. Existe uma ignorância generalizada em certos setores que não pode ser individualizada, ou seja, não podemos também culpabilizar um indivíduo por uma estrutura construída ao longo de séculos. Para citar um último exemplo, quero falar do voto em branco. Conheço inúmeras pessoas que não votaram ou votaram em branco com o discurso de que aquilo não iria fazer diferença. Três anos depois, é difícil fingir que aqueles votos não importavam. Nossas ações importam! Nosso voto, nossa intervenção e posicionamento importam e fazem a diferença. Sempre que puder, tenha isso em mente e compartilhe com a sua família e amigos. Vamos juntos em busca de um mundo melhor.

O que é Saúde Mental e por que ela é o termo da moda dentro da psicologia?

Você deve ter observado o aumento do tema saúde mental na sua rede. Assim como o autocuidado, que falamos por aqui na semana passada (clique aqui para ler o texto completo), o assunto está entre os mais procurados, principalmente desde que a pandemia começou. O cenário de incerteza disparou gatilhos e dados do Google apontaram alta de 98% nas buscas sobre transtornos mentais em 2020, comparado à média de 10 anos anteriores, com destaque para as frases “como lidar com depressão” e “como lidar com a ansiedade”. É possível que você tenha notado ainda como nos meses de janeiro e setembro a saúde mental está sempre em alta, sendo abordada com frequência em programas de canais abertos da televisão, por artistas globais nas redes sociais e por governos em campanhas locais. O Janeiro Branco é o mês da saúde mental, enquanto que o Setembro Amarelo busca concientizar pessoas em relação ao suicídio. Esses meses são muito significativos, pois promovem campanhas de conscientização e quebram tabus que rondam pessoas que lidam com essas questões. Dificuldades no acesso à prioridade global de saúde Abordar esse tema não é adiável. Por conta de sua relevância, é considerada uma prioridade global de saúde, visto que a promoção de uma mente saudável acarreta na qualidade de vida e, consequentemente, no desenvolvimento econômico. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), o percentual de pessoas com transtornos mentais em países de alta renda que não recebem tratamento adequado está entre 35% e 50%. Nos países de baixa e média renda, esse número fica entre 76% e 85%. Atualmente no mercado há inúmeras startups e aplicativos que exploram a saúde mental digital, com a proposta de diminuir os custos de terapias e aumentar o acesso. Você acredita que atualmente dá para fazer terapia via texto com terapeutas de carne e osso? Existem também aplicativos que usam inteligência artificial para terapia cognitivo-comportamental, onde pacientes conversam com um bot sobre suas aflições. Mas, afinal, o que é saúde mental? Ser mentalmente saudável, de acordo com a OMS, é ser capaz de desenvolver habilidades pessoais, lidar com estresse, mudanças e desafios, desenvolver relações sociais e trabalhar de forma produtiva, tudo isso com o bem-estar por perto. Dentro da psicologia o assunto está em alta por conta do aumento da demanda. Para citar um exemplo, a procura por atendimento psicológico durante o ano passado na rede municipal de São Paulo aumentou 116%. O Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que atendia 24 mil pessoas em setembro de 2019, atendia, segundo a pesquisa, 52  mil pessoas em outubro de 2020. Na rede privada não foi diferente, como mostra essa matéria do G1. Como vimos, a resposta do mercado também aponta que a busca por soluções de problemas que são comuns a muitas pessoas é urgente. Mais e mais pessoas estão falando sobre isso, da mesma forma que as incertezas dos tempos de pandemia tem desencadeado transtornos mentais que já eram preocupantes. Acredito que para além do tratamento quando um paciente já chega com a questão, nós, enquanto profissionais da psicologia, devemos trabalhar na prevenção. Os governos, as escolas, as comunidades, e outros espaços, precisam falar mais sobre isso, visando promover bem-estar, seja no ambiente físico ou virtual. Para finalizar, indico a todos uma série de cartilhas sobre saúde mental que a Fiocruz preparou. Lá são abordadas formas de lidar com o tema no trabalho, pessoalmente, com as crianças. Os materiais falam ainda sobre luto, cuidados paliativos, suicídio, violência doméstica, migrações humanas e cuidados povos indígenas.

Autocuidado: cuide primeiro de você para depois olhar para o resto

O tema autocuidado tem crescido bastante nos últimos anos. Com certeza você notou a mudança nas novelas, nos influencers e nos papos de bar com as amigas. Se entrar no Instagram e colocar #autocuidado na busca, por exemplo, vai notar que existem diversos tipos, entre eles, autocuidado emocional, consciente, feminino, natural, materno, feminista, na quarentena, amoroso, físico, masculino, facial, íntimo, enfim! Muitos! O que vai errado com o autocuidado? Naturalmente, a indústria viu uma oportunidade de ganhar dinheiro em cima da temática também, por isso, não raro vemos propagandas (mais conhecidas como #publis) nas redes sociais apontando a solução para se sentir bem na compra impulsiva de produtos exóticos e, muitas vezes, inacessíveis. A promessa é que eles vão te colocar em uma lista seleta de pessoas, farão um milagre no seu corpo, vão mudar a sua vida e serão totalmente indispensáveis na sua casa. Uma pesquisa de 2018 feita pela empresa de análise preditiva IRI mostrou que esse mercado movimenta US$ 450 bilhões só nos Estados Unidos. Um outro estudo mais recente e nacional, do IBOPE, encomendada pela Bayer, mostrou que 84% dos entrevistados buscam ter uma rotina de autocuidado, mas apenas um terço deles consegue fazer isso de forma regular. Paralelo a isso, estamos cada vez mais viciados em telas, que, de forma geral, ainda distribuem uma imagem ilusória do que é saúde, bem-estar e equilíbrio. Os click baits, ou seja, títulos chamativos feitos com o objetivo de persuadir, nos encaminham para corpos irreais, práticas que só poderiam ser mantidas a longo prazo se não tivéssemos mais nada para fazer, entre outros. Para quem se nega a entrar nessa roda, sintomas de FOMO (Fear of Missing Out, ou, em tradução livre, medo de ficar de fora) podem surgir. Tudo isso casa com uma cultura de correria, de trabalhar até não poder mais, de buscar soluções rápidas para questões sérias ou simplesmente naturais, como ter espinhas. Questões culturais que perpetuam a desigualdade de gênero Mais pesquisas mostram que mulheres cuidam muito mais de outras pessoas. O machismo dentro dessa sociedade que ainda é majoritariamente patriarcal, nos coloca nesse lugar. É comum ouvir “se eu não faço, ninguém faz” ou “não tenho tempo para nada”. Mesmo fora do ambiente doméstico, em nossos trabalhos e empreendimentos somos maioria no setor de serviços e ainda poucas em cargos de alta liderança. (Você pode ler um pouco mais sobre isso aqui). Por meio do levantamento “Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade”, a Oxfam denunciou que mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas por dia ao trabalho de cuidado não remunerado, ou seja, atividades como cuidar de outras pessoas, cozinhar, limpar, buscar água e lenha. Por conta dessas questões, muitas mulheres se culpam por se autocuidar, ou são taxadas de egoístas por quererem tirar um tempo para si. Mas, precisamos todos entender que o autocuidado é cuidar do outro também. Na minha opinião o motivo do autocuidado deve ser individual, mas pensando de forma mais ampla, todos se beneficiam. Dicas finais para começar o autocuidado hoje Não quero aqui ser simplista nas dicas. Como vimos, apenas um terço das pessoas consegue desenvolver a prática. Por isso, sugiro começar com pequenos hábitos. Pequenos mesmo, como por exemplo, antes de cortar as unhas, fazer uma imersão breve de cinco minutos em uma água com camomila. Ou então tentar dormir uma hora mais cedo, ou então, tomar três respirações profundas toda vez que perceber que está com algum tipo de ansiedade. Saber desligar da tecnologia é essencial para nossos estados de ânimo, assim como o contato com a natureza e a observação de nossa saúde mental. Por fim, autocuidado é diferente de aparência física. É um ritual de autopreservação em um caminho longo e nem sempre fácil. É um carinho para você, um espaço vitalício de cura e conexão. Vale dizer que muitas soluções para promover bem-estar e a saúde podem ser encontradas na natureza ou com valores acessíveis em mercados, casas de ervas, vizinhas ou pessoas mais velhas da sua própria família. Autocuidado não deve ser limitado a skin care, dietas restritivas, procedimentos estéticos, gurus ou exercícios excessivos. Práticas de cultivo desses dois pontos bases para o autocuidado podem ser feitas no dia a dia, sem necessariamente envolver relações comerciais.