Violência política de gênero: o que é e quais são os impactos para a democracia do país

Violência política de gênero

Violência é um termo bastante amplo, com diferentes implicações de acordo com a forma em que é empregada. Uma das aplicações pouco discutidas é a violência política de gênero, que atinge mulheres independentemente de suas ideologias, classes sociais ou mesmo etnias. 

Neste artigo, eu trago o conceito de violência de gênero na política, apresentando a forma como ela acontece, com exemplos reais e amplamente conhecidos que ajudam a compreender as dimensões do problema. Ao final, vou falar sobre como essa prática afeta negativamente a democracia de uma cidade, estado ou país.

O que é violência política de gênero?

A violência política de gênero é o conjunto de práticas agressivas direcionadas às mulheres, de forma a dificultar ou mesmo impedir a sua participação ativa na vida política de uma cidade, estado ou país. Ela atinge não apenas quem desejam concorrer a um cargo político, como também aquelas que estão em exercício de mandato e até mesmo aquelas que apenas desejam participar mais da política junto aos partidos. 

Como acontece esse tipo de violência contra a mulher?

Assim como todo o tipo de violência, existem incontáveis formas de aplicar e perceber a violência política de gênero acontecendo, desde as mais sutis até as mais esdrúxulas e agressivas. Por exemplo, você sabia que até 2016 o prédio do Congresso Nacional não tinha banheiro feminino? Parece bizarro, mas é um sinal bastante evidente de que não se imaginava a presença de mulheres ocupando tais espaços quando ele foi construído, na década de 1950, o que espanta é levar tanto tempo para que algo fosse feito.

Eu poderia discorrer por páginas e mais páginas só com exemplos de violência de gênero que acontecem todos os dias na política, mas, para sermos mais objetivos aqui, resolvi trazer 3 exemplos que são mais conhecidos e recentes, que ilustram muito bem o assunto. Acompanhe.

Caso Dilma Rousseff

Primeira presidenta mulher da história do país passou por inúmeros episódios de violência de gênero ao longo de seus dois mandatos. Na tese de doutorado de Perla Haydee da Silva podemos ver o resultado de uma pesquisa intitulada De louca a incopentente: construções discursivas em relação à ex-presidenta Dilma Rousseff, que analisou mais de 3 mil comentários negativos feitos nas redes sociais na época do impeachment.

O que mais chama atenção nesse caso é que instaurou-se um processo de destituição de poder dado legitimamente pelo povo a uma pessoa, com argumentações infundadas, pelo simples fato de se tratar de uma mulher. O que se discutiu na época não foi a capacidade de gestão ou a idoneidade da presidenta, mas o quanto ela era “burra”, “idiota”, “vaca” entre outros xingamentos.

Caso Manuela D’Ávila

Manuela D’Ávila é uma mulher de muita fibra e que recebe ataques proporcionais à sua potência. Nas eleições presidenciais, em 2018, quando era candidata a vice-presidente na chapa junto com Fernando Haddad, foi alvo de fake news, com montagens de fotos suas que geraram grande repercussão e acabaram favorecendo a eleição de Jair Bolsonaro.

Agora, como candidata a prefeita de Porto Alegre, uma nova enxurrada de notícias falsas e caluniosas foram levantadas contra Manuela. Um ponto interessante a ser destacado, nesse caso, é que as ofensas começaram um dia após a divulgação da primeira pesquisa de intenção de votos, onde ela estava na liderança. Quer mais um detalhe no mínimo intrigante? As duas pessoas que fizeram tais ofensas, sequer são eleitores de Porto Alegre, apenas precisavam difamar uma mulher que, honestamente, está se destacando na política.

Caso Joice Hasselmann

Como citei no começo do texto, a misoginia da violência política de gênero não leva em consideração ideologia política. Por isso resolvi trazer o caso da Joice Hasselmann, que foi líder do governo Bolsonaro na câmara dos deputados, em Brasília, de direita. Ao se negar a apoiar o Presidente e seus filhos, começou a sofrer tamanha repressão que passou mal e chegou a perder o útero e ficar internada em UTI.

Ela conta como foi esse caso em uma conversa com as candidatas à prefeitura de São Paulo sobre a temática da violência política de gênero nesta live

Quais são os impactos da violência de gênero na democracia?

Qualquer tipo de violência gera impacto negativo nas pessoas envolvidas. No caso da violência política de gênero, as consequências extrapolam o âmbito pessoal e atinge a sociedade como um todo, em especial nos três quesitos abaixo:

  • privação dos direitos das mulheres de exercer cargo eletivo em qualquer nível ou esfera;
  • limitação da representação política das mulheres nas decisões que vão interferir na vida de todas as demais;
  • adoecimento físico e psicológico ao ter que enfrentar tantos ataques.

Por que as mulheres negras sofrem mais violência política?

O Instituto Marielle Franco lançou recentemente uma pesquisa que trata da violência política contra mulheres negras e traz dados alarmantes sobre o cenário atual no Brasil. 

Pesquisa Violência Política Sofrida pelas Mulheres Negras

Em seu resultado preliminar, o estudo mostrou que 98,5% das respondentes já sofreram mais de um tipo de violência política. Veja mais detalhes no gráfico abaixo.

Pesquisa Violência Política Sofrida pelas Mulheres Negras

O principal motivo para combatermos a violência política de gênero é que ela prejudica a entrada de mais mulheres nos espaços de poder. Afinal, não é qualquer pessoa que se dispõe a enfrentar um ambiente tão hostil, colocando sua integridade física e moral em risco. Ter mais mulheres em cargos eletivos é dar visibilidade e esperança para as novas gerações. É incentivar mais mulheres a tomar seus lugares de direito na sociedade.

Enfim, a violência de gênero na política é um grande mal da nossa sociedade, tanto no Brasil quanto em outros países pelo mundo. Trata-se de uma prática misógina, fruto do machismo e do sistema patriarcal que vivenciamos nos dias atuais, mas que deve ser combatido para que, um dia, se torne apenas uma lembrança ruim do passado.

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