Foram semanas com diversas tensões raciais por conta das cruéis mortes de João Pedro e Miguel no Brasil e George Floyd e Breonna Taylor nos EUA, onde eclodiram manifestações no mundo todo.
Lembrei de dois ensinamentos de uma grande amiga que problemas complexos exigem soluções complexas e se não considerarmos parte do problema, não seremos parte da solução. Bom, nesse caso somos todos parte do problema já que todos temos uma raça.
Pouco antes de todos esses acontecimentos, eu acabara de assistir ao filme raça e redenção e achei inspiradora a história baseada em fatos reais em uma cidade no Sul dos EUA, onde, pouco tempo após a segregação, conseguiram promover a conciliação entre o extremo do racismo versus o ódio pela branquitude. Aliás, deixo como dica para pensarmos na naturalização de opressões e uma crença na impossibilidade de mudanças de atitudes ou posturas diante delas. Então decidi demorar um pouco mais para me posicionar porque primeiro ainda estava tocada por essa história real de conciliação entre partes historicamente inconciliáveis e após os fatos, tudo parecia desmoronar novamente.
Segundo, por acreditar que devemos fazer no nosso tempo, respeitando nossos limites e ao se posicionar, fazer por uma escolha e não obrigação. Terceiro, por decidir lidar com injustiça da forma que eu normalmente lido, ou seja, pensando como possibilitar que situações extremamente dolorosas, como assassinatos de pessoas negras sejam
ressignificados em um motivo de luta para evitar que a próxima família precise passar pelo mesmo sofrimento. Sempre entendi o quanto o racismo pode ser o “crime perfeito”, relembrando o prof. Kabengele que pontua como o racismo hierarquiza diversidades, além de impor que a pessoa que sofra com ele, tenha que sozinha superar todas as barreiras,
internas e externas, para ser uma história única de superação e vitória, sem uma real compreensão dos custos desse caminho na saúde mental e física de cada um de nós. Você sabia que o Brasil é 1° país em ansiedade no mundo, o 5° em depressão e a terceira causa de morte externa é o suicídio, sendo que entre pessoas de 10 a 29 anos, 45% de jovens
declarados pardos ou negros tem mais risco de suicidar-se do que brancos.
No Brasil a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado, a violência doméstica aumentou, nos últimos anos, em 54% para mulheres negras e diminuiu em 9,8% quando se tratam de mulheres brancas. Quando falamos sobre a polícia, apesar de negros serem 37% do efetivo total, temos 51,7% dos policiais mortos entre 2017 e 2018 eram negros. Em
média, trabalhadores brancos recebem 75% a mais que pretos e pardos no Brasil e a maior diferença salarial, considerando homens e mulheres brancos e homens e mulheres negras, é o salário da mulher negra. Enfim, tenho lido várias publicações de pessoas brancas,
incomodadas, por se perceberem imersas em universo de relações profissionais e pessoais somente com seus pares e realmente acredito que muitas pessoas não sabem como contribuir em uma mudança efetiva na sociedade. Ao mesmo tempo, diversas pessoas
negras sentem-se cansadas por saberem de dados, estatísticas de um genocídio que vem desde o início da escravatura no Brasil. O fato é que nós, negros em sua maioria, sabemos desses números há muito tempo e tem pessoas que se deram conta dele nos últimos dias ou agora nesse texto. Não importa qual é o seu caso, mas se você está se perguntando o
que pode fazer porque sentiu um ponto de indignação, entendendo que a maior parte das pessoas negras não vive ou se desenvolve acessando as mesmas oportunidades de educação, saúde, segurança e mercado de trabalho como todas as outras, deixo o pedido
que compartilhe meu texto e me procure porque estou iniciando um projeto de promoção de igualdade racial. Existem inúmeras plataformas, não é mesmo?! Sim, eu sei! Quero fazer
parcerias, mas também existem inúmeras dificuldades e eu decidi ser mais uma pessoa a contribuir na transformação que o Brasil precisa por me considerar como parte do problema.
Convido você a fazer o mesmo!