Nem toda relação entre pais e filhos é feita de afeto, cuidado e presença. Às vezes, o amor simplesmente não acontece. E embora isso doa — e muito — reconhecer essa ausência é o primeiro passo para se libertar de ciclos de dor e culpa.
Na novela Vale Tudo, Raquel e Maria de Fátima nos mostram esse abismo emocional. Raquel, uma mãe ética e batalhadora, enfrenta uma filha que a despreza, manipula e rejeita seus valores. O amor ali não é suficiente para atravessar o egoísmo, a vaidade e a violência emocional.
No cinema, o filme Precisamos Falar Sobre o Kevin escancara essa realidade dura. Uma mãe que tenta, mas não consegue amar o próprio filho — e um filho que, desde cedo, parece rejeitar qualquer afeto. É um retrato cruel da falência de um vínculo que, socialmente, é romantizado como inquebrável.
E na nova série Adolescência, da Netflix, acompanhamos a história de um adolescente acusado de assassinato, enquanto seus pais, ausentes emocionalmente, falham em perceber seu sofrimento e isolamento. A série é um alerta sobre os efeitos devastadores da negligência afetiva e da falta de escuta entre pais e filhos.
Essas histórias fictícias revelam um drama real: e quando o amor não acontece? Quando há abuso, negação, rejeição, competição ou desprezo? Quando o ambiente familiar é tóxico e sufocante?
É importante entender que vínculo não é sinônimo de afeto. A maternidade e a paternidade são experiências humanas — e, portanto, imperfeitas. Idealizar esses papéis nos impede de enxergar os danos que podem causar. Amar um filho ou um pai não é uma obrigação biológica. É uma construção. E nem sempre ela acontece.
Se você vive ou viveu algo assim, saiba: você não está sozinho. Não é ingratidão colocar limites. É sobrevivência. Escolher o distanciamento pode ser, muitas vezes, a forma mais profunda de autocuidado.
Família não deveria ser sinônimo de dor. Aliás, família é quem corre contigo e nem sempre será alguém com o mesmo sangue!