“Quem tem um amigo tem tudo Se o poço devorar, ele busca no fundo” já dizia Emicida na música que fez com Zeca Pagodinho e com a Tokyo Ska Paradise Orchestra. Um amigo, segundo ele, “É um ombro pra chorar depois do fim do mundo”. Somando à verdade secular, a música de 2020 mostra também que as relações de amizade são ótimas para nossa saúde mental, sendo indispensável para qualquer pessoa, quase como um instinto, uma resposta natural ao que é estar vivo.
Mas a amizade não é algo que se recebe apenas. Estar lá na alegria e na tristeza, e oferecer apoio é uma via de mão dupla. Na maioria das vezes, isso acontece com contato físico, e promove saúde física e emocional. Temos falado bastante aqui no blog sobre saúde mental e também sobre como a pandemia, que obrigou milhões de pessoas a se isolarem, afetou o bem-estar geral, desencadeando um aumento nos números de indivíduos com ansiedade e depressão. O toque físico, extremamente necessário segundo a ciência, e as trocas de experiências ficaram em segundo plano, em um mundo que fundiu ainda mais a vida profissional com a pessoal.
A verdade é que ninguém está bem. Aliás, como poderia? O cansaço causado pelas telas nos fazem usá-las para trabalhar, estudar ou para os famosos streams, não muito mais que isso. Quase não sobra tempo para festinhas virtuais ou para ouvir por horas aquele amigo que a gente ama. Ouvir longamente uma fofoca, como fazíamos na mesa do bar, é quase impossível. Passar um dia viajando, criando boas memórias, também.
Não quero parecer negativa, mas é um fato que a pandemia afetou para sempre a forma como nos relacionamos. Como, então, podemos tentar driblar todas essas questões? Vou compartilhar ações que funcionam para mim. Se você achar que eu posso acrescentar algo, me conta nos comentários?
Primeiro de tudo, eu preciso me sentir bem comigo mesma. Como vou poder oferecer um tempo de qualidade para alguém que eu amo se estou com enxaqueca ou estresse nas alturas por conta do meu trabalho? Por isso, separo pequenos intervalos de tempo para meditar, respirar fundo, fazer um escalda pés, usar um óleo essencial, tomar um chá, ver um filme bobo. Aqui, qualquer coisa que me acalme está valendo.
Quando me sinto bem de uma forma minimamente mensurável, mando aquela famigerada mensagem do ‘oi sumida(o)’, mas sem pressão ou pedindo resposta rápida. Ressalto que a pessoa deve responder quando puder e quiser, e me reservo o direito de fazer o mesmo. Se eu ver algo que sei que um amigo vai gostar, mando para ele, mas com muito cuidado também, porque ninguém merece ser sobrecarregado com links neste mundo cheio de informações.
Ainda sobre o ponto anterior, sei que às vezes bate aquela vontade de falar com as pessoas que a gente ama, mas é sempre bom perguntar se pode ligar e, em hipótese alguma, mandar “preciso falar agora. Cadê você? Preciso de você. É urgente” se realmente não for urgente. Isso pode causar ansiedade e, posteriormente, um afastamento, ou seja, não é legal para nenhuma das partes.
Quando o amigo ou a amiga responder, tento marcar um horário para batermos um papo curto, perguntar da família, dar risada de uma coisa inusitada que aconteceu no mercado, compartilhar sentimentos pandêmicos ou falar da reação da vacina. Tudo de forma muito leve, como se deve ser. Ressalto mais uma vez que está difícil para todo mundo, todos estamos com medo e, muitas vezes, nos sentimos sós no mundo. Por isso, precisamos ter cuidado com as relações e com as cobranças.
Se eu vejo que um amigo ou amiga está muito mal, tento mandar por deliver um mimo que reconforte, uma cartinha, uma foto impressa de um momento muito bom, flores, chocolate, um contato de profissional de psicologia ou qualquer coisa que faça aquela pessoa se sentir amada e cuidada naquele momento.
Algo que não é menos importante que os pontos anteriores: se você estiver sentindo falta de alguém em sua vida, há formas de falar isso sem parecer invasivo ou injusto com o que estamos todos enfrentando. E é um ato de coragem fazer isso, não é mesmo? Coragem de se mostrar vulnerável e dizer para o outro “eu quero você por perto”, e acionar aquela forma de lidar, caso venha algum tipo de rejeição.
Por fim, situações que tentamos visualizar no futuro podem nos afetar como se realmente tivéssemos vivido aquilo. Por isso, sem criar grandes expectativas, tente imaginar que, em um futuro não muito distante, você vai poder ver aquela pessoa querida, dar um abraço bem apertado e contar as novidades pessoalmente. Faça isso principalmente naqueles dias mais difíceis. Tenho certeza que vai ajudar.