Novembro é o mês em que celebramos o dia nacional da consciência negra e a pauta antirracista se torna mais evidente nas rodas de conversa de todos os lugares. Contudo, pouco ainda se fala da branquitude e do seu papel nessa luta que travamos diariamente contra o racismo.

No artigo de hoje, eu quero trazer uma visão diferenciada da questão racial que vivemos, analisando um aspecto que, ao meu ver, é fundamental e tem sido negligenciado, que é a discussão sobre a branquitude. Antes de seguir, quero dizer que, se você é uma pessoa branca, este texto não foi feito para lhe agredir de nenhuma forma. Para isso, eu preciso que você o leia de coração aberto, com disposição para absorver o que vai ser dito sem levar para o lado pessoal, muito menos para um lado negativista. Meu intuito é de derrubar muros e construir pontes.

Então, veja por que esse tema é tão importante e como as pessoas brancas podem ajudar na prática a combater o racismo.

Por que precisamos falar sobre a branquitude no momento em que todos estão falando sobre a negritude?

Que o racismo é um problema na sociedade mundial, todos podemos concordar. O que ainda causa muita dúvida e controvérsia é o papel das pessoas brancas nessa discussão. Em novembro, que é um mês onde todas as atenções se voltam para as questões raciais no Brasil, muito se fala sobre a negritude e os problemas que ela vive, mas pouco, ou quase nada, se fala da branquitude e o seu papel nisso tudo. 

Eu enxergo dois aspectos principais que justificam a importância de trazer esse assunto para a roda, como explico melhor nos tópicos a seguir.

As pessoas brancas precisam compreender o seu papel na perpetuação do racismo

Recentemente, eu li um texto sobre a branquitude na luta antirracista e um trecho me chamou bastante a atenção: 

“Os sujeitos que pertencem a grupos sociais privilegiados possuem essa característica como diferencial: uma extrema dificuldade para se enxergar enquanto grupo. Ao falar sobre quem mora no Nordeste, é utilizado o termo nordestino, mas quem no sudeste do país se denomina sudestino? Nos referimos a quem vive na periferia como periférico, mas não nos referimos a quem vive nos centros como “centrista” – na verdade, esse termo não tem relação alguma com o grupo social que vive no centro das cidades e nem os dicionários online foram capazes de apontar um antônimo para o termo “periférico”.”

A ausência dessa percepção identitária faz com que as pessoas brancas ajam naturalmente conforme o regime imposto, sem enxergar um problema nisso. Logo, elas não são capazes de notar a falta de diversidade dos locais que frequenta, pois isso não as incomoda. O grande porém aqui é que é justamente essa falta de incômodo que ajuda a perpetuar o racismo de forma estrutural.

A luta antirracista precisa do envolvimento de todas as pessoas, não apenas das negras

A falta de consciência da branquitude sobre seu papel na sociedade faz com que ela não se veja como parte do problema. É como se a luta por equidade fosse um ataque a seus direitos básicos, e como se o objetivo das pessoas negras fosse o de se tornarem melhores e maiores que as pessoas brancas.

Na verdade, o que a luta anttirracista busca é a equidade entre os povos, são direitos e oportunidades iguais para todos. Mas isso só é possível se todos estiverem igualmente comprometidos em transformar a sociedade em um ambiente mais saudável. Não é uma etnia contra a outra, mas todos juntos contra a segregação racial.

Como a branquitude pode ajudar na luta antirracista?

Vivemos um momento muito importante da história no qual a luta antirracista tem avançado e ganhado mais destaque. Contudo, é normal que surjam muitas dúvidas sobre como as pessoas brancas podem contribuir de forma mais efetiva com a luta, sem invadir o espaço de protagonismo das pessoas negras. Separei 3 dicas simples, mas muito eficazes que podem ser aplicadas em pequenas ações cotidianas. Confira.

Tomando consciência de sua condição privilegiada

Se você é uma pessoa branca, a parte mais difícil do processo é perceber e, acima de tudo, aceitar a sua condição privilegiada. A forma mais fácil de fazer isso é conhecendo as histórias das pessoas negras e as dificuldades que elas enfrentam no dia a dia. Disponha-se a ouvir de forma humilde e receptiva, queira aprender.

Observe os seguintes pontos e reflita sobre eles:

Utilizando seus privilégios em favor da luta antirracista

Na medida em que você começa a tomar mais consciência da sua branquitude, fica mais fácil utilizar seus privilégios em favor da luta antirracista. Uma das formas de fazer isso é levantando uma discussão sobre o racismo nos locais que frequenta, desde a roda de amigos mais próximos, até espaços maiores como escola, faculdade e empresa.

Quanto mais pessoas brancas se envolverem na luta contra o racismo, mais força o movimento ganha e mais benefícios são conquistados para todos. Lembre-se que muitas pessoas ainda não se percebem como parte do problema e, por isso, não conseguem se imaginar como parte da solução.

Ajudando a promover equidade nos espaços que ocupa

Por fim, a forma mais prática e efetiva de uma pessoa branca contribuir no combate ao racismo é se tornando um agente de transformação nos espaços que ocupa. Parece algo grandioso, mas existem muitas ações bem simples e pequenas que promovem uma diferença muito grande na comunidade negra.

Um bom exemplo é aumentar o volume de oportunidades, por meio da indicação de pessoas negras e empresas geridas por elas para a realização de trabalhos e prestação de serviços. Outra providência é aumentar a sua rede de contatos com pessoas negras, se envolver mais com elas e envolvê-las mais em sua rede atual de contatos, gerando mais oportunidades de conexões.

O dia nacional da consciência negra acontece uma vez por ano, mas as ações antirracistas precisam ser diárias e constantes. Além disso, não se trata de uma luta do povo negro, mas sim de toda a sociedade. A branquitude precisa despertar a consciência sobre si e passar a fazer parte desse movimento de construção de uma sociedade mais equânime, que gere oportunidades iguais a todos.

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