Dia 23 de setembro é o Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças. A data surgiu em 1913, após a criação de uma lei na Argentina de combate ao tráfico internacional de pessoas. Apesar de pouco discutido, o problema do tráfico de mulheres e crianças é real e precisa ser combatido.

Neste artigo, quero provocar uma inquietação a respeito do assunto. Por isso, vou começar apresentando alguns dados que revelam a gravidade do cenário atual e, em seguida, vou falar sobre os motivos que explicam a incidência maior de vítimas mulheres e crianças. Ao final, vou propor algumas ações que podemos fazer para ajudar nesse combate.

O que é e como acontece a exploração sexual e o tráfico de mulheres e crianças?

A exploração sexual e o tráfico de pessoas são dois assuntos distintos, mas que se relacionam entre si. No Brasil, vivemos estes dois problemas em larga escala, mas pouco se fala sobre o assunto. Temos que aproveitar datas como esta para fomentar as discussões e buscar alternativas que ajudem a minimizar o problema. A seguir, trouxe algumas definições e dados estatísticos para compreendermos melhor o cenário atual de ambos as questões.

O que é a exploração sexual de mulheres e crianças?

A exploração sexual acontece quando uma pessoa é obrigada por um terceiro a realizar ou manter relações sexuais com outras pessoas e troca de algo, geralmente dinheiro. Na grande maioria dos casos, são mulheres (cis ou trans) e crianças, que precisam se sujeitar à prostituição para pagamento de dívidas e “garantia de segurança” da família.

De acordo com o balanço do Disque Denúncia, foram registrados mais de 17 mil casos de exploração sexual de crianças e adolescentes em 2019. Em 73% dos casos, o abuso acontece dentro de casa, em 87% dos casos por um homem e em 48%, o abusador era o pai, padrasto ou um conhecido da vítima. Nas idades entre 10 e 19 anos, em mais de 90% dos casos a vítima é do sexo feminino.

Estamos falando de meninas que não estão seguras dentro de suas próprias casas, cercadas de pessoas conhecidas e que deveriam ser de ser sua inteira confiança. No infográfico abaixo, criado pelo O Globo, vemos algumas estatísticas alarmantes:

O que é tráfico de pessoas?

O tráfico humano é o comércio de pessoas para diferentes finalidades. As mais frequentes atualmente são a exploração sexual, a exploração de mão de obra com trabalhos análogos ao escravo e a retirada de órgãos. As principais vítimas do tráfico internacional, de acordo com a ONU, são mulheres ou meninas, representando 70%, e quase ⅓ são crianças.

Veja esse gráfico do site Politize que explica muito bem como acontece o tráfico humano:

Por que mulheres e crianças são o maior alvo?

Tanto no que diz respeito à exploração sexual quanto ao tráfico internacional de pessoas, as mulheres e crianças são os principais alvos das quadrilhas. A forma como a nossa sociedade foi estruturada tem muita relação com isso, como eu explico melhor nos tópicos abaixo.

Objetificação

O machismo, que faz parte da estrutura da sociedade atual, tem como uma das principais características a objetificação da mulher. Ela é vista como um objeto que pode ser vendido e usado pelos homens conforme seus desejos e necessidades, entre elas a sexual. A prostituição é um negócio altamente lucrativo e os criminosos que atuam nesse ramo aproveitam do machismo para manter uma cartela farta de clientes.

Fragilidade física

Mulheres e crianças têm um histórico de fragilidade física em relação aos homens adultos por diversos fatores. As crianças são facilmente vencidas pela força bruta, muitas quadrilhas agem no sequestro de recém-nascidos, ou de crianças muito pequenas. Em alguns casos, as próprias famílias são coagidas a venderem seus filhos, seja para o pagamento de dívidas, seja para obter proteção dos malfeitores.

No caso das mulheres adultas, é bastante comum que elas sejam enganadas com promessas de emprego no exterior. A articulação dos recrutadores é impecável, cheia de amarrações que convencem a vítima a embarcar no esquema. Quando descobrem o golpe, já é tarde demais e a força bruta se torna uma das armas para a retenção dessas mulheres na condição de escravizadas.

Incredulidade

Muitas pessoas ainda não acreditam que esses problemas existam. Outras até acreditam, mas acham que isso só acontece longe delas, o que não é verdade. Eu costumo dizer que todo mundo conhece ao menos um agressor ou abusador. Foram 17 mil crianças e adolescentes vítimas registradas em 2019. 

Entre os anos de 2012 e 2014 a ONU registrou mais de 63 mil vítimas de tráfico humano. Só no Brasil, foram identificadas mais de 240 rotas nacionais e internacionais. Estamos falando de um problema real. Imagine quantos casos ainda acontecem no anonimato, bem embaixo dos nossos narizes?

Impunidade 

Tudo isso só acontece, e cresce cada dia mais, porque as leis acerca da exploração sexual e tráfico de mulheres e crianças não contam com rigor suficiente, além de não estarem sendo devidamente cumpridas. A incredulidade piora a situação, já que ajuda a ocultar os crimes e a evitar o levantamento de suspeitas por pessoas que poderiam denunciar às autoridades.

O que podemos fazer?

O primeiro ponto importante é aceitar que o problema existe e se informar sobre ele. Em ambos os contextos, os criminosos se valem dessa falta de conhecimentos da população para praticarem seus atos. No caso do tráfico internacional, o aliciamento costuma vir disfarçado de proposta de trabalho. Por isso, desconfie de ofertas de ganhos muito altos e benefícios muito vantajosos.

Já em relação à exploração sexual, principalmente de crianças e adolescentes, é fundamental ter atenção aos detalhes. Mudanças de comportamento repentinas, recusa da criança em frequentar determinado ambiente ou de permanecer na presença de uma pessoa específica podem ser sinais de alerta. Antes que algo aconteça, converse com seus filhos, explique que ninguém pode tocá-los sem a permissão deles e, o mais importante, mantenha um diálogo constante.

A exploração sexual e o tráfico de mulheres e crianças é um problema mundial que pode ser combatido por cada um de nós. Seria utópico dizer que podemos acabar de uma vez por todas com o problema, mas seria leviano dizer que não fazer nada é indiferente. Cada vítima é uma pessoa importante e, se conseguimos fazer algo por uma, já estaremos fazendo toda a diferença na vida dela.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Cuide de Si Mesmo e Fique Por Dentro!

Receba o calendário de autocuidado e embarque em uma rotina de autocuidado conosco.

Ao se inscrever na nossa Newsletter, além de garantir seu calendário de 30 dias de autocuidado, você receberá dicas valiosas e atualizações exclusivas diretamente da psicóloga Mariana Luz. Dê o primeiro passo para uma vida mais equilibrada e informada!