O Brasil é um país de população bastante plural que poderia ter, nessa diversidade, um grande potencial. Na prática, o que vivemos é uma desigualdade imensa, baseada em padrões da sociedade que estão enraizados em nosso cotidiano. A melhor forma de combater esse padrões e trazer mais equidade para a sociedade é se informando, conhecendo a situação real e como isso impacta a vida das pessoas. 

Por isso, neste artigo, quero falar sobre esses padrões da sociedade, explicando cada um e os efeitos que eles provocam na população que não se enquadra em um ou mais deles. Por fim, vou falar sobre a relação de tudo isso com a saúde mental, explicando as consequências e, acima de tudo, a importância de ações preventivas.

Padrões da sociedade atual

A nossa sociedade está estruturada em padrões que definem como uma pessoa será vista pelas demais. Por mais que cada um tenha a sua história e que a realidade não seja nada do que o estereótipo prevê, cada um será previamente julgado por causa deles. Veja quais são esses padrões.

Machismo

O machismo é a premissa de que os homens são superiores às mulheres. Quem mais sofre com ele são as mulheres, desde a falta de acesso igualitário ao mercado de trabalho até a violência sexual e doméstica. Mas os homens também sofrem com o problema, pois precisam manter uma imagem forte e viril em tempo integral.

Falando dessa forma, parece um pouco extremo, casos que vemos apenas ao longe, mas a verdade é que todos nós somos parte desse problema e precisamos nos atentar para nossas atitudes no dia a dia. Algumas das principais crenças do machismo são:

Racismo

O racismo é um sistema que envolve o sentimento de superioridade de uma etnia sobre a outra. É mais do que um simples preconceito com a cor da pele de uma pessoa, é uma construção de centenas de anos, como eu conto em meu e-book “Era uma Vez a Negritude”.

Entre as principais crenças do racismo no Brasil, estão:

LGBTfobia

A LGBTfobia é o preconceito contra pessoas que se identifiquem com alguma das letras do movimento LGBTQI+, que são:

Essas características dizem respeito à orientação sexual de cada um e/ou à identificação de gênero, que são duas coisas distintas. O padrão estabelecido pela sociedade é que a pessoa seja cis gênero (se identificar com o gênero de nascimento) e heterossexual (sentir-se atraído sexualmente por uma pessoa do sexo oposto). 

As crenças da LGBTfobia são:

Descaso com quem foge aos padrões

Além desses padrões citados até aqui, existem vários outros que acabam afetando a vida de muita gente. As pessoas gordas, por exemplo, são vistas como lentas, preguiçosas e descuidadas com a própria saúde. Características que não refletem a realidade de todos os casos.

Outro tipo de preconceito bastante recorrente acontece com as pessoas com deficiência. Elas são vistas como incapazes de desempenhar determinadas funções, principalmente nas empresas e acabam sendo direcionadas para cargos mais limitados. 

Efeitos das exigências sociais na vida da população

Diante de todas essas exigências, quem não se encaixa nos padrões da sociedade acaba percebendo os efeitos em diferentes momentos do cotidiano. Abaixo, eu trago apenas alguns dos aspectos mais marcantes e presentes no dia a dia dessas pessoas.

Limitação do acesso ao mercado de trabalho

Em 2019, os homens ganharam 30% a mais do que as mulheres e preencheram mais de 56% dos postos de trabalho, mesmo as mulheres sendo a maioria da população, com 52% de representatividade, de acordo com dados do IBGE.

Também com base nos dados do mesmo instituto, a população branca recebe 56,6% a mais do que a negra. Os cargos de serviços braçais e de menor exigência intelectual são ocupados majoritariamente pelos negros, enquanto cargos de liderança e profissões como arquitetura e engenharia são dominadas pelos brancos.

Uma pesquisa divulgada no site Razões para Acreditar mostrou que 90% das travestis estão na prostituição por não conseguirem emprego no mercado formal, mesmo com bons currículos. Além disso, 33% das empresas afirmaram que não contratariam LGBT’s para cargos de chefia. 

Para cada grupo de cidadãos e cidadãs que não se enquadram em todos os padrões que a sociedade impõe, encontramos estatísticas que mostram os impactos disso no mercado de trabalho e, consequentemente, na fonte de renda dessas pessoas.

Limitação de acesso a serviços básicos

Com as limitações ao mercado de trabalho, essa população também tem seus poderes aquisitivos limitados, em muitos casos, recebendo menos que o suficiente para sustentar a si e sua família de forma digna. Diante disso, muitas coisas básicas passam a ser consideradas supérfluas, tais como o lazer e os cuidados preventivos com a saúde.

Situação de vulnerabilidade social

A falta de oportunidades gera problemas graves de renda para essa população, que se vê obrigada a sobreviver com muito pouco. Sem ter como arcar com um local decente para morar, nem uma alimentação saudável e demais elementos básicos de sobrevivência, elas entram em situação de vulnerabilidade social e passam a depender muito mais da ajuda do outro do que de seus próprios esforços para mudar esse cenário.

Impactos na saúde mental 

Como resultado de tudo isso, não há saúde mental que permaneça intacta. A imposição de todos esses padrões faz com que as pessoas estejam o tempo todo tentando se encaixar de alguma forma. O indivíduo passa a nunca se sentir suficiente, capaz ou merecedor de progredir na vida. 

Somando esses fatores à falta de acesso aos serviços de assistência à saúde mental, os níveis de ansiedade e de estresse podem se agravar e evoluir para casos mais extremos de depressão e até mesmo levar a pessoa ao suicídio. 

Jovens negros têm taxa de suicídio 67% maior que a de jovens brancos. Jovens LGBT’s pensam três vezes mais em tirar a própria vida. As mulheres sofrem duas vezes mais com a depressão do que os homens. Todos esse dados apenas ilustram uma realidade que é triste, infeliz, mas que pode ser mudada por todos nós.

Temos que lutar por mais ações afirmativas, por um país com mais equidade, onde as oportunidades cheguem a todos e que as características essenciais de cada um não sejam um motivo de diferenciação de capacidades. Isso se faz articulando com diferentes atores da sociedade, mobilizando instituições e, acima de tudo, sugerindo e cobrando políticas públicas que favoreçam essa população.

O diálogo sobre a saúde mental deve ser constante. Só assim poderemos alcançar melhorias reais para quem não se enquadra nos padrões da sociedade atual. Cada um fazendo a sua parte em prol de um país melhor para todos.

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