Você tem medo de querer mais? Como superar a insegurança e assumir sua ambição
A ambição feminina ainda é vista com desconfiança. Mulheres que sonham alto e querem mais para si são frequentemente rotuladas como “exageradas”, “agressivas” ou “insatisfeitas”. Esse julgamento social pode gerar um medo silencioso de desejar mais – seja na carreira, nos projetos pessoais ou na vida de forma geral. Mas até quando a insegurança vai ditar os seus passos? O medo de assumir a própria ambição muitas vezes vem de crenças limitantes que aprendemos ao longo da vida. Frases como “não exija demais”, “não vá além do necessário” ou “cuidado para não parecer arrogante” criam barreiras invisíveis que nos impedem de avançar. O primeiro passo para superar essa insegurança é reconhecer que querer mais não é um erro – é um direito. Outro fator que alimenta esse medo é a síndrome da impostora, a sensação constante de que não somos boas o suficiente, mesmo diante de evidências de competência. Esse sentimento pode nos levar a recuar diante de oportunidades ou a nos contentar com menos do que merecemos. Trabalhar o autoconhecimento e construir uma rede de apoio são formas eficazes de enfrentar essa barreira. Assumir a própria ambição também exige prática. Pequenos passos, como definir metas claras, valorizar conquistas e se expor a novos desafios, ajudam a fortalecer a confiança. Quanto mais você se permite avançar, mais natural se torna desejar e conquistar novos espaços. A ambição não precisa ser um peso ou uma luta solitária. Ela pode ser um motor para transformar sua vida e abrir caminhos para outras mulheres. Permita-se querer mais – e vá atrás disso sem medo.
Feminicídio: o que é e por que se matam tantas mulheres no Brasil
O que é feminicídio: De fora direta, o feminicídio é o homicídio cometido contra mulheres, pelo simples fato de serem mulheres. Parece absurdo essa afirmação, mas, infelizmente é mais comum do que você imagina. Gerada pela misoginia, ou seja, pelo menosprezo a condição feminina ou discriminação de gênero, todos os dias mulheres são assassinadas por parceiros ou ex, por familiares, por desconhecidos, estupradas, esganadas, espancadas, mutiladas, negligenciadas, violadas e invisibilizadas: mulheres morrem barbaramente todos os dias no Brasil! Tipos de feminicídio Há seis anos, no dia nove de março de 2015, entrava em vigor a lei do feminicídio (Lei 13.104/15), o assassinato de mulheres por serem mulheres. A lei considera feminicídio quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima. A Lei do Feminicídio não enquadra, qualquer assassinato de mulheres como um ato de feminicídio, apenas os seguintes casos: Violência doméstica ou familiar: quando o crime resulta da violência doméstica ou é praticado junto a ela, ou seja, quando o homicida é um familiar da vítima ou já manteve algum tipo de laço afetivo com ela. Menosprezo ou discriminação contra a condição da mulher: quando o crime resulta da discriminação de gênero, manifestada pela misoginia e pela objetificação da mulher. Quando o assassinato de uma mulher é decorrente, por exemplo, de latrocínio (roubo seguido de morte) ou de uma briga simples entre desconhecidos ou é praticado por outra mulher, não há a configuração de feminicídio. Feminicídio no Brasil Infelizmente, o país é o quinto no ranking mundial onde mais se matam mulheres. Todos os dias, um número expressivo de mulheres, jovens e meninas são submetidas a alguma forma de violência no Brasil. Assédio, exploração sexual, estupro, tortura, violência psicológica, agressões por parceiros ou familiares, perseguição, feminicídio. Sob diversas formas, a violência de gênero é recorrente e acontece nos espaços públicos e privados, encontrando na morte a sua expressão mais grave. Para se ter uma ideia do quadro geral, o país registra um caso de feminicídio a cada 6 horas e meia! Nos últimos dois anos, durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19, em 2020, foram registrados 1.350 casos de feminicídio! Apesar de graves e impactantes, esses dados podem ainda representar apenas uma parte da realidade, uma vez que uma parcela considerável dos crimes não chega a ser denunciada ou, quando são, nem sempre são reconhecidos e registrados pelos agentes de segurança e justiça como parte de um contexto de violência contra as mulheres. Com isso, a dimensão dessa violência letal ainda não é completamente conhecida no país.
Violência contra mulheres negras e o feminismo interseccional
Não é difícil ouvir que certos grupos estão segregando, dividindo forças ou lutando contra o preconceito sendo preconceituosos. O chamado feminismo interseccional, uma corrente que leva em conta não só o gênero, como também a classe e, principalmente, a raça de uma mulher, está cansado desse tipo de abordagem. “Mas por que isso? Não podemos juntar esforços?” alguém pode perguntar. Podemos e devemos! No entanto, se muitas mulheres não se sentem acolhidas por outros tipos de feminismos, a pergunta deve ser “estamos realmente incluindo demandas de todas em nosso movimento?”. Vamos a alguns dados A população negra (preta ou parda) corresponde a 56,2% da população brasileira, segundo dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Com quase 60 milhões de pessoas, as mulheres negras formam o maior grupo populacional do país. No entanto, elas são as mais afetadas por crises, o que denuncia uma condição social e econômica ainda muito abaixo do que deveria ser, do que seria justo, vamos dizer assim, para uma efetiva igualdade. A falta de políticas públicas direcionadas só potencializa essa condição. Apesar da mulher negra ter entrado no mercado de trabalho antes da mulher branca, a PNAD mostrou também que, em 2020, o desemprego entre mulheres não negras foi de 13,5%, enquanto que, entre mulheres negras, o número chegou a 19,8%. A taxa de desemprego é quase o dobro, se compararmos com a taxa verificada entre homens brancos. E falando em salário, mulheres negras ganham em média R$ 1.476 por mês, enquanto que mulheres brancas ganham em média R$ 2.529 no mesmo período. Não vou nem trazer aqui a média do salário de um homem branco, mas você pode imaginar. A violência contra a mulher negra é secular e persiste. Um levantamento do G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal mostrou que no primeiro semestre de 2020, 75% das mulheres assassinadas eram negras. A mulher negra era, nessa altura, 3 entre 4 mulheres assassinadas neste país. Com isso em mente, volto ao questionamento inicial para quem reclama do feminismo interseccional, acusando-o de separar o movimento e colocar nossas demandas acima das outras: há realmente uma inclusão equalizada de demandas? Pioneirismo forçado A mulher negra é pioneira. Não quero que você, leitora ou leitor, ache que isso seja super legal. Ter entrado no mercado de trabalho muito antes das mulheres brancas, ter reivindicado direitos não só para elas, mas para seus filhos e conhecidos, foram ações frutos da extrema necessidade. Até os dias de hoje vemos que muito mais mulheres negras empreendem por necessidade. Sem emprego, elas ficam sem escolha e precisam empreender às pressas, sem muito planejamento, o que afeta mais ainda sua condição econômica. Na emergência, nós nos erguemos e arranjamos uma forma de sobreviver, e não deveria existir uma romantização em volta desse fato. Ao longo dos séculos tivemos que nos reinventar muitas vezes, e seguir caminhando mesmo com os atravessamentos violentos não só contra nossos corpos negros, mas contra os corpos de nossos pais, irmãos, primos, tios e companheiros. Para mim, o feminismo interseccional é mais uma dessas formas de buscar soluções para os problemas de muitas. Há muitas outras que no final têm o mesmo objetivo: diminuir essas desigualdades. Focadas em nossas demandas entre nós e com aliadas e aliados que entendem e querem somar, iremos mais longe. Lembrando de Angela Davis, quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.
Não se posicionar também é se posicionar

Graças a muitas batalhas, hoje conseguimos viver em uma sociedade onde podemos nos posicionar, compartilhar histórias, fazer protestos, votar, ir e vir, entre outras ações. Temos uma Constituição que garante acesso à direitos fundamentais, como educação, propriedade, trabalho, moradia e saúde. Claro que muitas vezes eles não chegam, ou pelo menos não a todas as pessoas, mas devemos reconhecer que estamos um pouco melhores do que no século passado nessas questões. Nossa vida é feita de escolhas, que são tomadas de forma consciente, ou não, considerando o cenário, as possibilidades e, claro, as consequências. Apesar do que eu citei no parágrafo acima, temos muito ainda para conquistar. Alguns exemplos Igualdade de gênero. Neste texto sobre o voto como nossa arma para mudar as coisas, eu compartilho brevemente o caminho que tivemos que fazer para ter direito ao voto, e dou destaque para a trajetória de mulheres, ressaltando os bons resultados que tivemos nas últimas eleições municipais. No entanto, ainda ganhamos menos no mercado de trabalho, e o cuidado com os outros, filhos, mais velhos e casa, ainda é exigido majoritariamente por nós. Também precisamos avançar nos cargos de liderança e nos mais altos escalões da política. Raça. É uma questão sensível neste país onde muitas pessoas ainda acreditam na democracia racial. No entanto, basta olharmos para espaços de poder como a política e grandes empresas para ver que ainda estamos um longe da igualdade. Do outro lado, olhando para os níveis de violência, a população negra é a que mais sofre. Em 11 anos, os níveis de homicídio das pessoas negras cresceu 11,5%, enquanto que o de outros grupos caiu 13%, segundo o Atlas da Violência de 2020. Dados tristes como esse podem ser observados em relação à violência doméstica, violência obstétrica, mortes por covid-19 e outras doenças, além da taxa de encarceramento da população. Classe. Esses dias eu vi que a concentração de terras aumentou na última década e, alinhado a isso, a produção de monoculturas, que usam toneladas de agrotóxicos. No ano da pandemia, onde milhares de pessoas perderam seus empregos e outras muitas começaram a passar fome ou viram sua situação de vulnerabilidade social se aprofundar, surgiram 11 bilionários no Brasil, reforçando a máxima da desigualdade econômica nesse país que é tão rico, mas onde poucos têm muito. Sobre os deveres Neste país de dimensões continentais, nem todas as pessoas são conscientes em relação aos três pontos que citei acima. Tem muito mais coisa para discutir, mas considero que conhecer esses três assuntos é um bom início para entender o funcionamento de estruturas e se posicionar contra elas para fazer parte da mudança. Chegamos até aqui porque as pessoas se posicionaram contra a escravidão, contra a monarquia, contra as regras sociais que diziam que mulheres deveriam ficar em casa cuidando dos filhos, contra o coronelialismo e outras muitas injustiças! Pensar em nosso devir, ou seja, nas próximas gerações, deve passar pelo o que queremos deixar para elas. O Brasil que queremos deixar para os nossos filhos terá fome? Desmatamento? Veneno no prato? Machismo e misoginia? A partir do entendimento, é necessário compartilhar! Lá em cima eu falei que nem todas as decisões são conscientes, porque tem muitas pessoas que não entendem o peso ou a importância de suas ações. Existe uma ignorância generalizada em certos setores que não pode ser individualizada, ou seja, não podemos também culpabilizar um indivíduo por uma estrutura construída ao longo de séculos. Para citar um último exemplo, quero falar do voto em branco. Conheço inúmeras pessoas que não votaram ou votaram em branco com o discurso de que aquilo não iria fazer diferença. Três anos depois, é difícil fingir que aqueles votos não importavam. Nossas ações importam! Nosso voto, nossa intervenção e posicionamento importam e fazem a diferença. Sempre que puder, tenha isso em mente e compartilhe com a sua família e amigos. Vamos juntos em busca de um mundo melhor.
Por que as mulheres devem se unir e batalhar pelos seus direitos?

No meu último texto, falei sobre o poder do voto para mudar cenários cristalizados por séculos. Quis fechar a nossa conversa indicando um texto sobre machismo, misoginia e sexismo que fiz em novembro do ano passado. O conteúdo faz todo sentido e foi baseado em pesquisas e experiências pessoais, não só minhas como de mulheres que conheço. No entanto, o comentário de um homem ao que foi escrito só me mostrou o quanto a luta por direitos e as ações para quebrar o preconceito de gênero ainda são indispensáveis. Basicamente, o senhor defendeu abertamente que mulheres deveriam ficar em casa cuidando dos filhos. Infelizmente, ainda temos que lidar pessoalmente e no mundo virtual com comentários do tipo, além de olhares de reprovação às mulheres que decidem fazer carreira ao invés de perseguir o ideal de dona de casa que dá conta de tudo sem reclamar, pelo contrário, com um amor infinito no coração. A mulher que ousa dizer que não é frágil e não necessariamente precisa de um homem, é frequentemente tida como irracional. E o que dizer das corajosas que vão contra os padrões de beleza? Estrutura filmada e reproduzida Esses dias, estava conversando com uma amiga sobre como mesmo em séries progessistas ou naquelas que deveriam oferecer algum tipo de lazer, a narrativa de mulheres que têm tudo para ser bem sucedidas e resolvidas, acaba girando em torno de uma pessoa do sexo oposto. Sempre tem aquela mulher que larga o emprego dos sonhos para que o marido siga seu sonho em uma outra cidade com ela ao lado, dando todo tipo de apoio. Tem também aquela protagonista que recebe a notícia com a qual ela sonhou a vida toda, mas não consegue se alegrar por causa de uma mera discussão que teve mais cedo com o namorado. Pode parecer paranóico ou dramático demais, eu sei! Mas quando a gente para e pensa sobre os condicionamentos desde o berço, é comum nos sentirmos frustradas ou previsíveis demais. Mas eu sou a favor da mulher ser dona de suas escolhas, de ter consciência das estruturas e poder escolher o que é melhor para si, sem se preocupar com julgamentos alheios, apelidos ou ataques. O que eu pretendo aqui é provocar, é promover essa discussão que fala cada vez mais alto “nós, mulheres, podemos”. Não quer ser dona de casa? Tudo bem! Quer ser? Tudo bem também. Quer ter uma carreira brilhante e se casar mais tarde ou não casar? A escolha deve ser sua. Quer ter filhos ou não? São escolhas também. É o seu direito escolher o que é melhor para a sua vida. Alguns dados para apoiar nossas ações O quinto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), “Igualdade de Gênero”, busca acabar com todas as formas de discriminação de mulheres e meninas. A meta prevê que com essa ação, além de garantir direitos humanos básicos, vai acelerar o desenvolvimento sustentável, visto que mulheres têm capacidade multiplicadora no que diz respeito ao crescimento econômico e desenvolvimento social. Ainda temos muito o que conversar sobre divisão de tarefas domésticas, por exemplo, visto que mulheres dedicam cerca de 21 horas semanais para cuidar, arrumar, lavar, passar, cozinhar, etc., contra 11 horas dos homens. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para citar mais um exemplo, quero falar da remuneração no mercado de trabalho. Mulheres recebem 77,7% do salário de um homem com a mesma instrução. Você acha justo? Para algumas pessoas pode parecer óbvio que lutar contra isso é necessário. Mas para muitas, a estrutura sempre foi assim e não vale a pena lutar, porque nunca vai deixar de ser. Por isso, acredito que temos força na união, no compartilhamento de histórias boas, ruins, de superação ou de coragem. Quero finalizar essa nossa conversa com um apelo: se puder, converse com as mulheres que estão próximas a você sobre isso. Pergunte para as mais velhas como era na época delas e aponte o que mudou. Anote o que não mudou e vamos juntas para a luta. Um pedaço de cada vez é possível. Por fim, sabemos que a política é uma plataforma essencial! Por meio dela, conseguimos mais leis, mais incentivos para causas que visam igualdade não só entre gêneros, mas entre raça e classe também. Conversemos mais sobre isso.