Naomi Osaka, 23 anos, uma das maiores tenistas do mundo, fez uma corajosa declaração sobre suas crises de depressão, desencadeadas após a conquista do maior prêmio da categoria, o Grand Slam, em 2018, e deixou um campeonato importante para cuidar de si. Em 2021, no auge das Olimpíadas de Tóquio, Simone Biles, 24 anos, a maior ginasta da atualidade, decidiu não competir na final, para priorizar sua saúde mental. A pressão por performance e resultados voltou a ser debatida nos grandes veículos de comunicação, assim como sinais de estresse e a prejudicial necessidade de  precisar provar seu valor constantemente.

Daiane dos Santos, ex-ginasta brasileira e atual comentarista das Olimpíadas, disse que a reação de Simone indica que seu motricional não estava ligado com o mental, o que, trocando em miúdos, é confirmado pela atleta na seguinte fala em uma entrevista.

“Sempre que você entra em uma situação de alto estresse, você meio que enlouquece. Tenho que me concentrar na minha saúde mental e não colocar em risco minha saúde e bem-estar. É uma bosta quando você está lutando com sua própria cabeça. Você quer fazer isso por si mesmo, mas ainda fica muito preocupada com o que todo mundo vai dizer.”

Em seu perfil no Instagram, a atleta mostrou como treinar muito a fazia ter espécies de apagões, e que nos treinos ela poderia ‘desmaiar’ nos colhões, mas em uma competição, não teria esse apoio, o que aumentava o risco de lesões.

Já Rebeca Andrade, 22 anos, mulher negra e brasileira, continuou a competir. O seguinte diálogo, entre um repórter e ela, recém ganhadora da medalha de prata, expõe como uma base psicológica mostrou seu valor e foi decisiva para ela nesse ambiente e após a saída de uma adversária importante.

Repórter: Foi tão atribulada a chegada a essa final, eu digo, pro mundo da ginástica, por causa da Simone. O que passou na sua cabeça momentos antes, durante a competição? É difícil se desligar disso também? A gente sabe da importância que ela tem para o mundo da ginástica, era um nome a ser batido, cria uma pressão extra para quem estava competindo sem ela?

Rebeca Andrade: Eu acho que o fato dela ter saído não foi nada negativo. As pessoas tem que entender que o atleta não é um robô, ele é um humano. Então, a decisão     que ela tomou foi a coisa mais sábia que ela pode fazer por ela, não foi nem pelos outros, porque não se brinca com a cabeça, sabe? Eu trabalho muito com a minha psicóloga por causa disso. Hoje, eu sou uma atleta diferente justamente pela cabeça que eu tenho. Porque eu acho que se eu tivesse em 2016, como eu era muito nova, muito crua, isso não teria acontecido. […] O que eu sempre falei nas entrevistas também, quando me perguntavam, o que eu sempre admirei nela era o psicológico dela, porque todo mundo sabe que ela é a melhor do mundo, que ela tem todo o talento, ela é incrível mesmo, sabe? Então eu sempre admirei muito isso, porque a pressão em cima dela era muito constante e era muito difícil, então ela acabava se cobrando muito também. […] Eu fiquei orgulhosa dela por ter tomado essa atitude e ter pensado nela antes de qualquer outra coisa.

O que podemos aprender com elas?

O recorte de um pedaço da vida dessas três mulheres, nos mostram que quanto mais elas entregam, mais é pedido. Por isso, equilibrar os pratos é uma atividade para o qual a preparação acontece ao vivo, sob o olhar de milhares de pessoas e, no caso das Olimpíadas de Tóquio, sob o olhar do mundo inteiro. Eu consigo imaginar a pressão, e você?

Nem todo mundo consegue, e está tudo em tirar um tempo para si, dar um passo para trás. Mais do que chegar lá, é preciso muita coragem para se colocar em primeiro lugar e abrir mão de coisas pelas quais se lutou muito, quando aquilo diminui ou elimina seu bem-estar. Está tudo bem não querer se expor a jornalistas que vão fazer perguntas desconfortáveis ou não querer estar próxima dos fãs o tempo inteiro.

Por aqui, como fã dos esportes desde pequena, continuo admirando essas mulheres dentro e fora do esporte! Torço para que elas fiquem bem e voltem a achar prazer em suas atividades. Desejo que essas decisões difíceis sirvam como plataforma para mudar paradigmas sobre saúde mental. Apesar da longa discussão, muitos ainda encaram isso como mimimi, mas, como vi por aí nas ruas da internet, “mimimi é a dor que não dói na gente”.

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